www.kenkoweb.net/10885

Produtos com infravermelho e Ions negativos



jueves, 21 de enero de 2010

CAFUNE ANTIGO E MODERNO - HISTORIA



DO ACALANTO AO CAFUNÉ


O acalanto ou cantiga de ninar tem o efeito de exorcizar as trevas da solidão – o tom monótono da cantilena e o balanço induzem relaxamento progressivo até dar sono.

Enquanto os olhos se fecham, os outros sentidos se envolvem em suave torpor. A mãe, propiciadora do olhar libidinoso narcísico, confere existência emocional ao filho que, tornando-se adulto, passará os dias buscando a réplica desse prazer, para obliterar a ferida da separação. Os carinhos que acontecem na cadeira de balanço serão substituídos por práticas e subterfúgios que promovam o toque. E assim começa a vertigem amorosa.

No Brasil colonial, as mucamas exerciam importante papel afetivo na dinâmica familiar ao praticar o cafuné. No Aurélio, cafuné é um regionalismo, que consiste em: 1) estalido produzido com as unhas na cabeça de outrem como quem cata piolhos; 2) derivação: por extensão de sentido, carícia em geral, esp. com a ponta dos dedos no couro cabeludo de outrem; afago, mimo (tb. us. no pl.).

A prática se destinava a fins sanitários – catar piolhos e lêndeas – e se prolongava em afagos de mãos deslizantes sobre cabeças recostadas ao colo. A “operadora” era íntima da casa e prodigalizava-os a homens, mulheres e crianças que os solicitassem. As maiores beneficiárias eram as ‘senhoras’, confinadas na ‘casa grande’, em longas tardes ociosas. Embora os europeus demonstrassem certa resistência física ao hábito, o prazer voluptuoso do cafuné era compartilhado pelas aristocratas, que encontravam no ambíguo cerimonial uma compensação pelo alheamento de seus senhores. Corpos estendidos e relaxados, cabeças entregues a mãos que os desembaraçavam, num clima docemente erótico.

Como explica Charles Expilly, em “Mulheres e costumes do Brasil”: “À hora do calor, quando mover-se ou mesmo falar é uma fadiga, as senhoras, recolhidas ao interior dos aposentos, deitam-se ao colo da mucama favorita, entregando-lhe a cabeça. A mucama passa e repassa os seus dedos indolentes na espessa cabeleira que se desenrola diante dela. Mexe em todos os sentidos naquela luxuriante meada de seda. Coça delicadamente a raiz dos cabelos, beliscando a pele com habilidade e fazendo ouvir, de tempos a tempos, um estalido seco entre a unha do polegar e a do dedo médio. Esta sensação torna-se uma fonte de prazer para o sensualismo das crioulas. Um voluptuoso arrepio percorre os seus membros ao contato dos dedos acariciadores. Invadidas, vencidas pelo fluido que se espalha em todo o seu corpo, algumas sucumbem à deliciosa sensação e desfalecem de prazer sobre os joelhos da mucama.”

“Ó Fulô! Fulô!

(Era a fala da sinhá)
Vem me ajudar, ó Fulô
Vem abanar o meu corpo
Que estou suada, Fulô!
Vem coçar minha coceira
Vem me catar cafuné,
Vem balançar minha rede,
Vem me contar uma história
Que eu estou com sono, Fulô.

(Jorge de Lima)

Para Wilson Lins, “embora muitos autores opinem que o cafuné seja de origem africana, somos inclinados a acreditar no seu caráter universal. No vale do São Francisco ele foi introduzido pelo português, pois a influência do negro ali é quase nenhuma, mesmo em nossos dias. Além do mais, a universalidade do cafuné é um fato de fácil comprovação. Desde os mais recuados tempos da Antiguidade, a “catação” desfruta de grande prestígio. O cafuné brasileiro, que para uns foi trazido de Portugal e para outros já era usado pela indiada, tem raízes profundas e não constitui, como querem alguns autores, um hábito colonial, vez que até hoje vigora no país, não apenas no Interior”.

Mulheres brincam com os cabelos umas das outras. Crianças também, pois a cabeça, especialmente o couro cabeludo, é muito sensível à estimulação. Escovar os cabelos pode ser uma experiência bastante sensual. Longas horas são perdidas no ‘salão’, a lavar e cuidar dos cabelos. Ou contemplar-se, deliciada, ao espelho.
No filme “O marido da cabeleireira”, um homem vai ao salão diariamente para sentir as mãos da profissional em seus cabelos - e acaba casando com ela. Passar a mão na cabeça de alguém significa aprovação. É sempre um gesto de carinho usado entre casais ou entre amigos.
Para a sociedade moderna, tocar virou tabu, a menos que haja uma intenção utilitária, ou terapêutica ou francamente sexual.

Técnicas bioenergéticas têm sido criadas para executar terapias corporais em colaboração ou substituição das psicoterapias. Mas, desde que se admitiu que a pele tem sede de contato, exacerbou-se o culto às exigências corporais, que passaram a equivaler – e até superar – as do espírito.

Os seres humanos, criados para a separação desde o nascimento , valem-se de todas as suas capacidades para encontrar sua metade perdida por desígnio dos deuses. Num olhar amoroso que confirme que sua existência vale a pena. Ou em mãos que lhes devolvam as carícias maternas. Oscilando entre os pólos de Vida e Morte, uns casam. Outros dão pra beber. Outros cantam, se jogam dos trapézios, viajam às estepes, escalam montes, vendem tudo que têm, matam, morrem, viram esportistas, ou poetas, ou missionários. Ou, simplesmente, vão afogar as mágoas numa boate que vi em Goiás, construída sobre funerária do mesmo proprietário: “Eros e Tanatos” …
Este post foi publicado por Tekka Whitman, em Sex, Jul 21st, 2006 at 12:01 am no caderno Tentando ser prosa. Para respostas RSS 2.0 feed. Both comments and pings are currently closed.


Psicoanálise Do Cafuné. (Psychoanalysis of the Cafuné.): Roger Bastide. Sao Paulo Revista do Arquivo, 1940.Abstract by: Adelheid Koch

'At noon the mistress of the house puts her head in her favorite girl-slave's lap; the slave strokes with her fingers her mistress's loosened hair, touches the hair-roots, fondles the scalp and creates a little cracking sound with the nails of the thumb and the third finger. This causes a pleasant sensation in the mistress's whole body which makes her swoon with delight comparable to an orgasm…'

Bastide states that he was less interested in the description of this old Brazilian custom, described by two European travellers early in the nineteenth century, than in the emotional reaction of the two travellers. Both expressed strong aversion and disgust. Malinowski has described a similar custom among children and loving couples in Northwest Melanesia.

Bastide's interpretation starting with the symbolic equation, head=genitalia, mentions the infantile sexual significance of hair, and then asks how it can be that this behavior developed in Brazil to a socially accepted custom among adult women. It becomes understandable when one takes into consideration the life which the white woman lived in the colonial period in Brazil. The women married at the age of 12 or 13, were entirely left to their husbands' tyranny and were spied upon by husband, in-laws, and hundreds of native slaves. They were confined to their houses, their husbands made love to the young slave girls before their eyes, and a strict, religious up-bringing all combined to make sexual satisfaction nearly impossible for white women. The Cafuné probably developed as a substitutive sexual satisfaction which was tolerated because its sexual character was extragenital.

CAFUNÉ
(Por: Marcos Woyames de Albuquerque)
Deita aqui...
Põe sua cabeça na minha perna.
Se aconchega!
Esquece a vida.
Deixa lá fora os problemas.
Vem viver como num sonho!
Vem... deita aqui...
Fecha os seus olhos.
Se o sono chegar não relute.
Não importa se você dormir.
Estarei zelando por seu sono.
Estarei zelando por você.
Nada vai mudar.
Nada de novo vai acontecer.
Apenas por um momento deixe-se viver.
Seus cabelos em meus dedos.
Seus encantos de menina.
A tranqüilidade de se sentir amparada.
Talvez uma canção do Roberto,
Talvez um verso do Drumond.
Não importa.
Apenas relaxe!
Vem... deita aqui...
Isso.. deita!
Esquece o mundo.
Esquece a vida.
Sonha com os anjos.
Shhhhh!!!!
Bons sonhos!